3-013-2016

Existem elementos conceituais do modelo burocrático que se encaixam perfeitamente na filosofia e nas funções da administração pública. Uma parte do modelo burocrático não pode ser ignorada se se quiser evitar cair na discricionariedade, no clientelismo e na insegurança jurídica e institucional. As administrações públicas do futuro não podem enfrentar com o modelo burocrático seus desafios futuros, em um contexto de governança complexa e com um possível aumento de suas competências. O modelo burocrático é rígido e pouco consistente com as necessidades de gestão dos serviços públicos, operando em rede e com sistemas tecnológicos sofisticados. Um modelo de negócio ordenado precisa ser introduzido na gestão pública. Ambos os modelos podem coexistir se os seus perímetros organizacionais estiverem claramente definidos e os padrões de relacionamento entre ambos estiverem estabelecidos. Seria um sistema complexo de equilíbrio, mas que poderia funcionar na prática. O modelo atual de administração pública é um monstro eclético em que sua base é o modelo burocrático mal implementado, ao qual foram adicionadas partes do modelo de gestão e partes do modelo de governança. Entre esses três modelos, que coexistem de forma caótica, o antigo modelo clientelista reaparece entre suas frestas. O clientelismo é muito resistente, pois é a forma natural da organização humana, e aproveita momentos de crise ou a falta de consistência de modelos para renascer. Nessas condições, afirmar que a atual administração pública tem um modelo burocrático é uma impostura, já que seu design responde a tensões conceituais tão diversas que nenhum modelo sólido e solvente realmente possui.

Publicado: 2016-10-03